terça-feira, 27 de novembro de 2007

Do mindinho para a mente

O que se sente
é tão sentimentalmente complexo,
que crente sinto que consigo
escrever aquilo que vivo
no âmago do mundo onde te vejo.

O que vejo ou
o que sinto que se vê,
não encontro neste mundo porquê
nem meio digno para o comunicar.

Não, não são assuntos de amor,
daqueles que deixam a cara em rubor
e as almas inflamadas de ânsia ou rancor.
Pobres desgraçadas vítimas do ardor.

Falo dos prédios,
do mover da batuta.
De tardes outonais,
da poesia na rua.
De viagens para lá da lua,
e de tempos passados.
Os prados de ares inspirados,
as cidades às quais aspiro.

Tudo passa num suspiro,
o que sinto que em ti vejo
ou penso que se sente.
Não sei da realidade do que penso
pois irreal é o pensamento.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

um pássaro caído do céu

No espelho à minha frente me vejo;
Sim , sou eu, lá estão os olhos e a boca,
os movimentos por mim sentidos.
Voei e voltei, como está tudo?
Olhei e lá me vi, continuava a ser meu.
Mas espera...
Devo ser eu, a imagem está lá,
a mesma de sempre, desde a saída do ventre
materno, onde já me sonhava da mesma forma.
Formou-se a face, mudaram-se as formas,
mas senti-me sempre eu, senhor do meu mundo,
pequeno mas grande, seguro de ser quem sou
e seguro do que serei.
Nevoeiro pousou nesta serra no topo do mundo.
Descobri que pouco via neste confortável aposento
de quem vai vivendo no aconchego do seu canto.
Tentei andar para a frente e caí,
durante longos meses caí.
Pensei que morreria,
mas a terra lá em baixo me amparou.
Em trapos me levantei,
sonambulo te vi,
piei....cantei.
Vinhas de não sei onde,
conhecias não sei o quê.
Tinhas um nome,
disseste vem aqui e vê
o mimo que para ti tenho.
Deste-me um abraço
e parti para o mundo.
Sorrindo

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Combóio a tempo




Camisola côr
de pôr-de-sol tardio
faz-me lembrar
do dia em que vi passar
minha vida num
expresso para o mundo.

Combóio que corre a mil-à-hora,
dizendo sempre "Adeus, vou-me embora",
apesar de eu sempre querer sair
para conversar, para abraçar.
Queria que o combóio abrandasse
e eu pudesse sair para descansar.
Desse tempo para apanhar
experiências junto ao rio,
para depois seguir viagem,
como um alegre pendura
que cheira as brazas e
sente o fresco vento na face.
Dez quilómetros, uma nova cidade,
uma nova visão
onde o doce aroma a utopia
move mundos, onde oriundos
dos cantos da Terra se movem
saltimbancos sonhadores,
sentindo o mar, falando às flores,
trovando memórias e desamores.
Sempre sorrindo...

Ouve-se profunda a voz
do vapor que sai;
o som de um colosso de metal
caminhando sobre carris.
Continua correndo a mil-à-hora
a gritar "estou atrasado, estou fora de hora",
não vendo que nao sai do sítio.
Anda à nora.
Corre às voltas
atropelando quem passa.
Pára vida!!

Dá-me tempo para andar,
aprender e algo mudar
no mundo da pressa e do tempo contado.

domingo, 4 de novembro de 2007

Sobre as viagens como uma criança

Várias voltas ao mundo demos
num só jardim,
onde tudo o que se ouve
é a ele e a mim.

Uma viagem de mota
e paramos para abastecer
de gasolina de óleo de amendoim,
líquido dourado que o mundo fez mover
enquanto o percorríamos de lés-a-lés,
ele sentado e eu pelos meus próprios pés.
Em passos de gigante, dei cinco
e acabou-se o mundo.
Voltamos para trás
e à sombra dum cacto,
num qualquer árido deserto
contamos os grãos de areia
que a vida nos vai dando.

Ele 4, eu 16.
Quatro vezes mais viajamos como crianças,
eu nas lembranças,
ele no tudo-nada de se ser pequeno.
Tudo o que poderá viver;
de nada se lembrará até
tomar consciência de ser
humano e capaz.

Ele desconhecia a sua própria existência,
apenas vivia. Bem.
Eu... Vou-a descobrindo enquanto viajo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Sobre o lugar onde te lembrei

Rua de Santa Catarina,
momento incógnito no infinito do tempo.
Momento congelado nos minutos
perdidos dos homens.

Só os pensamentos sinto mover,
neste fotograma do curto viver
que já possuo.
Que nostalgicamente sorri
com seu sol vespertino
e seu cachimbo de
castanhas fumegantes.
Uma calçada quente
do movimento que fervilha por cima.
Uma cidade parada no tempo,
continuamente correndo pelas vidas que passam.
Podendo ser uma qualquer cidade de experiências,
é por aqui que te encontro
quando estás neste canto do mundo
e te digo que aqui vivemos.

Estás na rua neste momento.
Para ti o tempo está passando
e assim vais espalhando
cores no meu fragmento
de cidade em tons sépia.
Aqui me lembrei do mundo
que tinha para te contar

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Lembrei-te

Sinto que o tempo parou.

Eu e as gentes, estáticos como se
toda a existência fosse este momento.
E mesmo assim tu te moves na leveza com que voas.
No cume do mundo vivia e por cima dele sonhava.
Tudo o que soube parece que deixei escapar,
tão grande a incerteza que me assalta.
Não sei se valho,
não sei se sou,
se consigo,
não sei se vou.
Ignoro até se sei saber,
pois tão grande é o que existe.
Em que mundo vivo?
Não te encontro no meu...
Penso que te conheço de algum lado.
De sonhos, será?
Se acordar vejo que divagava
erradamente, pois sinto-te maior do que sonhava.
No outro dia viajei para lá do planeta
onde os embondeiros são uma ameaça.
Queria mostrar-te o que vi.