quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Olhando para a folha branca,
tanta frase que não sai.
Nem um riso nem um ai
se desenham pela minha mão

E eu cheio de intenção
cantaria como um poeta
a história da vida inquieta
do velho vendedor de sonhos.

Reduzo-me a ser feito
da música já bem criada,
das palavras vestidas a preceito
que me fazem correr pela estrada
do pensamento.

E eu tão lento...
Não lhes respondo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Este quarto,
esta dança,
esta guitarra,
esta luz transparente que agarra
e afaga todos os cantos.

Tão pequenos e ocupam tanto espaço
no regaço onde os levo para todo o lado.

Aqui nada existe,
tudo pode se criado.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

As flores

Aos poucos planto.
planto porque sim,
sem propósito nem fim no horizonte.
Não para ter história que se conte
nem se guarde com orgulho.
Falsas-paixões são entulho
que fere o sentir e a vista.

É bom que se insista que planto
não para afagar o pranto
de sêr jardineiro desde que eu sou eu.
(que é belo ser assim jardineiro
sonhando incondicionalmente)
Apenas prezo sentar.me,
como quem sente,
com um sonho pairando
a entreter a mente.
Não como quem se entretem e descarta,
pessoa já farta, deixa sua flor murchar.

Planto.as pela sua cor,
seu aroma trazendo o calor
da soma das viagens pelo sentir.
Vivo.as no que hão de ser e há de vir
sem que existam para além-mim.
O que será delas no fim?
O fim não vem para as flores,
que para o seu jardineiro
cheiram sempre ás ânsias e dores
de quem não tem canteiro
nem ancinho,
nem se importa de sonhar sozinho.

Passeio.me a caminho de tudo...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

"E tu Maria diz.me onde andas tu
qual de nós faltou hoje ao rendez-vous
qual de nós viu a noite
até ser já quase de dia
é tarde, Maria
toda a gente passou horas
em que andou desencontrado
como à espera de um comboio
na paragem do autocarro."

Sérgio Godinho

(onde andas? desencontramo.nos la no alto)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

De aí de longe

partilha comigo aquele silêncio confortável,
silêncio que poisa só porque o sabemos poder
ter sem razão ou mal ao mundo.

o silêncio do segundo
em que se dançou.
que lá fora nada mudou.
ninguém o achou e fez dele revolução.

não se faz pão e vinho dele, não.
não se faz música sozinho com ele, não.

não te dirá nada se não for a vontade.
o silêncio não é verdade
que se tome à letra.

silêncio soalheiro,
soprado pelo meio de ruas cheias.

(para quem já não sei chamar, para la do irreal)
(da irrealidade da sua presença)


O leve fumo de um cigarro de um homem
que absorto na sua imaginação se torna ele
próprio leve, se elevando rumo ao céu.
Essa é a pessoa que vive plenamente no seu interior,
na infinidade da sua imaginação, sem constragimentos alheios
ao seu sonho.
É ele que existe de todas as formas.

Esse é pessoa, viajante do real inexistente.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

e quando o dia de desfazer os nós chegava,
eis que surge uma daquelas obrigações que não
o seria num outro dia qualquer...
não neste...

domingo, 5 de outubro de 2008

dançando a três

três é o número da inês
é a conta que deus fez
conta? (qual conta?)

três é o número da vez
em que tudo é perfeito,
é utopia que morre no leito

três divide as valsas
danças a dois são falsas

dançamos nós, o par
e a causa de sonhar

dançamos seguindo a voz que nos guia
seja ela a música ou a alegria
de se saber em paixão (pelo mundo).

pisando o chão
dançamos o segundo que havia...

dançando a três se fez o dia.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008


Ai os raios de sol que escapam ao sentido da marcha das cores ausentes,
e nos dão ar de sua graça nas manhas-pores-de-sol.

vagaroso o tempo...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

(não duas) palavras

não quero saber...

que numa só linha
escrevam a vida dançando sozinha.

ou pensam escrever...

Por assim dizer o digo,
quem conversa sem falar
ouve o que quer seu ouvido,
recebe (imaginário) o que quer dar.

"Uma imagem
vale mil descrições."

mas entre as monções
e a soalheira paisagem
não nos valha a imagem.

É que duas palavras são uma viagem.



sexta-feira, 19 de setembro de 2008

"Pisemos a pista
é bom que se insista
dancemos no mundo."

desenhemos então à nossa altura.
(desenhemos também sem corpo visível, se for possível)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Suspensos foram os minutos nos quais te supus
conhecer enquanto o chão empoeirado afagavamos descalços.
Reconheço-te, não te conheçoo os gestos..
Não te conheço os caminhos nem as passadas,
as mazelas nem a que te sabe cada côr.
Apenas te sei o nome e que contigo dançaria à
música que não há até ao pôr-do-amanhecer do dia que principia mais uma vida.

Agora, sem intenção, me fazes viajar pelos caminhos a mim desconhecidos da tua cidade.
Agora meus dedos rolam o lápis que inquieto sabe nunca ter completado seu propósito.
Desenha pontas soltas do que não é e do que poderá ser.
Escreve a medo para não assustatr quem o lê, para não se pintar tão grande como não é.

Enquanto o lápis na mão permanece o mesmo,
vão sendo gastos tantos lápis descrevendo a mim mesmo o que se sente.
Gasto-os com gosto
e me encosto a parede da escadaria no fim de tarde.

Encantei-me, e agora sonho.

Passei alguns dias sem saber se deixaria as frases
que te queria dar para dar para depois.
Nem sei se eram estas as tais frases.


Para a Joana (Félix de nome)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O que foi para ontem não está feito
e o amanha dorme ainda no leito
longínquo do que poderá ser.
Ainda não é.

Parece ser a história de quem tem ânsia tudo...

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Observações

É uma criança gulosa.
O Filipe até cerca dos 8 meses foi uma criança muito sossegada,
respeitando ao máximo a lei do menor esforço.
Passava imenso tempo na cadeira de encosto, ou no carrinho a olhar para as mãos.
Era grande apreciador da televisão.
O seu programa favorito era a Publicidade.

domingo, 27 de abril de 2008


Todas as horas de viagem, a todos os minutos num qualquer lugar familiar.
Longínquo e novo, mas familiar.
Todos os pedaços de sorriso que preenchem o caminho.
T todas as conversas que posso ter, tudo o que posso dizer...
Tudo o que ouço, e que sentes que posso ouvir.
A uma família que vou construindo, que me viaja pelo sol...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Mais vale mal que nada
Mesmo quando a maçada
no tempo surgir
há tempo para sentar.
A desexistir,
é melhor ser-se vulgar

Teatro

Passeei-me num outro dia
por um sítio onde havia
sol e chuva constantes.
Mas os presentes não se incomodavam,
tal era normal.
Todos os dias participavam no teatro de variedades
sob este clima descomunal.

Encontrei o Sr. do alinho,
vi-o já morto lá na colina.
Dizem os outros que ficou tão fraquinho,
que num instante todos lhe passaram em cima.

Num canto falei com o amigo Folião,
um companheiro bonacheirão,
e um belo figurão.
Bebeu meia adega creio,
deixei-o então a sonhar no passeio.

Passavam das três
quando vi certo personagem
deste teatro de rua.
Fazia mil coisas de uma só vez:
escrevia, lia, mirava a lua
queria meter toda a vida num mês.
Perguntou se não teria
esquecidas num bolso
uma hora ou duas que
lhe vendesse a avulso.

O que foi para ontem não está feito
e o amanha dorme ainda no leito
longínquo do que poderá ser.
Ainda não é.

Já no fim da tarde,
mesmo junto ao pôr-do-sol,
fui econtrar um sonhador
cantando uma pessoa em mi bemol.

Passou-se num estranho mundo
de escadas redondas e vales montanhosos.
No tempo de não sei quando
com não sei bem quem.

Mas tenho um palpite para
a origem destas miragens
na terra de sol e vento.
São todas personagens,
dançando no meu ser,
construindo o meu pensamento?...
Onde o mundo se queixa
do enegrecimento da gueixa,
da tirania do homem minusculo,
eu vejo a palavra pessoa.
Pessoa, que espalha pela cidade tudo o que sabe.
Não é a toa que Fernando era pessoa.
Pessoa não é "um".
É UMA pessoa.

Viajante atarefado,
caminhando apressadamente até a algum lado
do seu sêr.
Só por viver
já caminha pela estrada suspensa do pensamento.
Com mais ou menos discernimento
vai-se vestindo com o fato que mais lhe convém.
Assume então que seus gestos são os que aquele corpo tem.
Mas aquela pessa afinal não é só uma.
É sim toda a gente e gente nenhuma.
Serpenteando pelas memórias,
cria histórias na sua caixa ferrugenta.
É pessoa.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Um céu sonhado

Leio-me, escrevo-me, penso e cada vez mais chego à conclusão de que sou feito de metades. Sou metade o que penso e metade o que faço.
Sou metade o que sinto e metade o que deixo ver que sinto. Sou metade a vida que vivo fisicamente, e metade a vida real que vivo dentro de mim.
Vivo todas as coisas e todas as hipóteses sem sequer terem acontecido. Só dentro...
Mas o que é dentro é que é realidade.
Porque a paisagem que nos é transmitida pelo mundo nos chega distorcida pelos sentidos.
A paisagem e o mundo que imaginamos existe em nós tal como o imaginamos, perfeito.
Mas choramos essas paisagens por não as conseguir viver completamente...
Há uns rasgos em que pensamos conseguir, quando estamos livres, ou apaixonados pelas circunstancias do nosso mundo...
Nesses rasgos a musica compõe-se, a imagem forma-se e o sorriso inunda a face. Mas neste pseudo mundo de sonho não sou livre.
Vivo das contingências, das emoções e sentimentos, do bem estar físico, das moléculas que reagem no corpo.
Se estou a sonhar com um mundo longínquo em que te encontro, no outro vejo as circustâncias que vão passar nossos caminhos e toda a complexidade de cada um e de cada sentimento e prespectiva e vejo outro céu.
E vejo o mundo interior confuso porque não sabe que forma há de tomar, porque tem tantas coisas, porque não sabe qual é a forma do teu...
Um mundo que fica cheio e pesado de repente, de tanto pensar...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Ó mar gente

Vi o mar bater de rompante,
chamou uma voz e num instante
me calei, virei a levante e
vi o reflexo do sol no mundo das pessoas.
Estava sereno e sorridente o mundo,
mas virado para o mar um segundo
vi-o irritado e turvo
ia e vinha desaconchegado,
gritava com o corvo cinzento do seu passado.

Contou-me que o som
que ouviu algures dum acordeon
não lhe sossegava a memória
de quem lhe havia rasgado o ventre.
Terra e Homens ao longo da História.

Disse-lhe que se sossegasse,
o tempo passou,
a Terra mudou
e agora sorria,
tanto aqui como do outro lado da sua face.
E eu estava com ele,
afagava-lhe as ondas
com o lápis e as palavras.
Tanta gente deposita
seus sonhos e memórias em ti, ó salgado.
Choras o tempo que já não é,
aparte a grandeza pareces humano.
Estás cá e logo vais,
incerto e inseguro
agarras teu lado escuro
dizes não volto mais.

Mas logo vem o dia,
que te trás de volta.
Dás uma rima solta,
sorris e vais,
voltar nunca mais.

Já viste tanto, és privilegiado,
vês a terra e o ser humano:
pobre, rico e enamorado.
És o maior de todos eles
e quando te vejo no meu sonho
és maior que todas as gentes,
vês todo o mundo,
cegos, visionários e crentes.

Foi-se o mar todo contente,
criança recém-aconchegada.
Beijou o sol e falou.
Guarda isto, tudo é nosso,
pareço gente,
tens razão,
por muito que o mundo seja lume quente,
isolo-me num canto mente,
vou e venho inventando solidão.