segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Um céu sonhado

Leio-me, escrevo-me, penso e cada vez mais chego à conclusão de que sou feito de metades. Sou metade o que penso e metade o que faço.
Sou metade o que sinto e metade o que deixo ver que sinto. Sou metade a vida que vivo fisicamente, e metade a vida real que vivo dentro de mim.
Vivo todas as coisas e todas as hipóteses sem sequer terem acontecido. Só dentro...
Mas o que é dentro é que é realidade.
Porque a paisagem que nos é transmitida pelo mundo nos chega distorcida pelos sentidos.
A paisagem e o mundo que imaginamos existe em nós tal como o imaginamos, perfeito.
Mas choramos essas paisagens por não as conseguir viver completamente...
Há uns rasgos em que pensamos conseguir, quando estamos livres, ou apaixonados pelas circunstancias do nosso mundo...
Nesses rasgos a musica compõe-se, a imagem forma-se e o sorriso inunda a face. Mas neste pseudo mundo de sonho não sou livre.
Vivo das contingências, das emoções e sentimentos, do bem estar físico, das moléculas que reagem no corpo.
Se estou a sonhar com um mundo longínquo em que te encontro, no outro vejo as circustâncias que vão passar nossos caminhos e toda a complexidade de cada um e de cada sentimento e prespectiva e vejo outro céu.
E vejo o mundo interior confuso porque não sabe que forma há de tomar, porque tem tantas coisas, porque não sabe qual é a forma do teu...
Um mundo que fica cheio e pesado de repente, de tanto pensar...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Ó mar gente

Vi o mar bater de rompante,
chamou uma voz e num instante
me calei, virei a levante e
vi o reflexo do sol no mundo das pessoas.
Estava sereno e sorridente o mundo,
mas virado para o mar um segundo
vi-o irritado e turvo
ia e vinha desaconchegado,
gritava com o corvo cinzento do seu passado.

Contou-me que o som
que ouviu algures dum acordeon
não lhe sossegava a memória
de quem lhe havia rasgado o ventre.
Terra e Homens ao longo da História.

Disse-lhe que se sossegasse,
o tempo passou,
a Terra mudou
e agora sorria,
tanto aqui como do outro lado da sua face.
E eu estava com ele,
afagava-lhe as ondas
com o lápis e as palavras.
Tanta gente deposita
seus sonhos e memórias em ti, ó salgado.
Choras o tempo que já não é,
aparte a grandeza pareces humano.
Estás cá e logo vais,
incerto e inseguro
agarras teu lado escuro
dizes não volto mais.

Mas logo vem o dia,
que te trás de volta.
Dás uma rima solta,
sorris e vais,
voltar nunca mais.

Já viste tanto, és privilegiado,
vês a terra e o ser humano:
pobre, rico e enamorado.
És o maior de todos eles
e quando te vejo no meu sonho
és maior que todas as gentes,
vês todo o mundo,
cegos, visionários e crentes.

Foi-se o mar todo contente,
criança recém-aconchegada.
Beijou o sol e falou.
Guarda isto, tudo é nosso,
pareço gente,
tens razão,
por muito que o mundo seja lume quente,
isolo-me num canto mente,
vou e venho inventando solidão.