domingo, 27 de abril de 2008


Todas as horas de viagem, a todos os minutos num qualquer lugar familiar.
Longínquo e novo, mas familiar.
Todos os pedaços de sorriso que preenchem o caminho.
T todas as conversas que posso ter, tudo o que posso dizer...
Tudo o que ouço, e que sentes que posso ouvir.
A uma família que vou construindo, que me viaja pelo sol...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Mais vale mal que nada
Mesmo quando a maçada
no tempo surgir
há tempo para sentar.
A desexistir,
é melhor ser-se vulgar

Teatro

Passeei-me num outro dia
por um sítio onde havia
sol e chuva constantes.
Mas os presentes não se incomodavam,
tal era normal.
Todos os dias participavam no teatro de variedades
sob este clima descomunal.

Encontrei o Sr. do alinho,
vi-o já morto lá na colina.
Dizem os outros que ficou tão fraquinho,
que num instante todos lhe passaram em cima.

Num canto falei com o amigo Folião,
um companheiro bonacheirão,
e um belo figurão.
Bebeu meia adega creio,
deixei-o então a sonhar no passeio.

Passavam das três
quando vi certo personagem
deste teatro de rua.
Fazia mil coisas de uma só vez:
escrevia, lia, mirava a lua
queria meter toda a vida num mês.
Perguntou se não teria
esquecidas num bolso
uma hora ou duas que
lhe vendesse a avulso.

O que foi para ontem não está feito
e o amanha dorme ainda no leito
longínquo do que poderá ser.
Ainda não é.

Já no fim da tarde,
mesmo junto ao pôr-do-sol,
fui econtrar um sonhador
cantando uma pessoa em mi bemol.

Passou-se num estranho mundo
de escadas redondas e vales montanhosos.
No tempo de não sei quando
com não sei bem quem.

Mas tenho um palpite para
a origem destas miragens
na terra de sol e vento.
São todas personagens,
dançando no meu ser,
construindo o meu pensamento?...
Onde o mundo se queixa
do enegrecimento da gueixa,
da tirania do homem minusculo,
eu vejo a palavra pessoa.
Pessoa, que espalha pela cidade tudo o que sabe.
Não é a toa que Fernando era pessoa.
Pessoa não é "um".
É UMA pessoa.

Viajante atarefado,
caminhando apressadamente até a algum lado
do seu sêr.
Só por viver
já caminha pela estrada suspensa do pensamento.
Com mais ou menos discernimento
vai-se vestindo com o fato que mais lhe convém.
Assume então que seus gestos são os que aquele corpo tem.
Mas aquela pessa afinal não é só uma.
É sim toda a gente e gente nenhuma.
Serpenteando pelas memórias,
cria histórias na sua caixa ferrugenta.
É pessoa.