sábado, 15 de dezembro de 2007

História dos grãos de areia perdidos

Algo mais antiguinho,
sobre medos passados e presentes.

Os meus olhos sem vida olhavam fixamente para a fornalha,
onde os negros grãos de carvão se transformavam em incandescentes sois.
A rotina obscurecida pelo fumo que saía das chaminés altas e esguias da fábrica
havia há já muito tempo obstruido o meu pensamento.
Já não sonhava ser aviador, apenas sonhava sair daquele lugar.
Sem o sustento ganho naquele trabalho imundo eu viveria miseravalmente...
Toda a vida trabalhara naquele lugar, nada mais sabia fazer.
Também os meus pulmões sufocados pelas cinzas não me levariam a nenhum lugar longe dali...
Mas mesmo assim gostaria de vivver saudável e fora daquele cinzento, poder sonhar
o mundo que me esperasse fora das paredes enegrecidas pela fuligem.
O pó cai...
As chamas reflectem-se no brilho baço dos olhos...
Tudo o que tenho é uma pá e uma vida, já muito enfraquecida por tudo o que passei.
É triste viver na solidão. Gostaria de ser forte para ganhar, viver, sonhar!
Mas o único sonho que tenho é sair deste lugar.