sábado, 15 de dezembro de 2007

História dos grãos de areia perdidos

Algo mais antiguinho,
sobre medos passados e presentes.

Os meus olhos sem vida olhavam fixamente para a fornalha,
onde os negros grãos de carvão se transformavam em incandescentes sois.
A rotina obscurecida pelo fumo que saía das chaminés altas e esguias da fábrica
havia há já muito tempo obstruido o meu pensamento.
Já não sonhava ser aviador, apenas sonhava sair daquele lugar.
Sem o sustento ganho naquele trabalho imundo eu viveria miseravalmente...
Toda a vida trabalhara naquele lugar, nada mais sabia fazer.
Também os meus pulmões sufocados pelas cinzas não me levariam a nenhum lugar longe dali...
Mas mesmo assim gostaria de vivver saudável e fora daquele cinzento, poder sonhar
o mundo que me esperasse fora das paredes enegrecidas pela fuligem.
O pó cai...
As chamas reflectem-se no brilho baço dos olhos...
Tudo o que tenho é uma pá e uma vida, já muito enfraquecida por tudo o que passei.
É triste viver na solidão. Gostaria de ser forte para ganhar, viver, sonhar!
Mas o único sonho que tenho é sair deste lugar.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Do mindinho para a mente

O que se sente
é tão sentimentalmente complexo,
que crente sinto que consigo
escrever aquilo que vivo
no âmago do mundo onde te vejo.

O que vejo ou
o que sinto que se vê,
não encontro neste mundo porquê
nem meio digno para o comunicar.

Não, não são assuntos de amor,
daqueles que deixam a cara em rubor
e as almas inflamadas de ânsia ou rancor.
Pobres desgraçadas vítimas do ardor.

Falo dos prédios,
do mover da batuta.
De tardes outonais,
da poesia na rua.
De viagens para lá da lua,
e de tempos passados.
Os prados de ares inspirados,
as cidades às quais aspiro.

Tudo passa num suspiro,
o que sinto que em ti vejo
ou penso que se sente.
Não sei da realidade do que penso
pois irreal é o pensamento.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

um pássaro caído do céu

No espelho à minha frente me vejo;
Sim , sou eu, lá estão os olhos e a boca,
os movimentos por mim sentidos.
Voei e voltei, como está tudo?
Olhei e lá me vi, continuava a ser meu.
Mas espera...
Devo ser eu, a imagem está lá,
a mesma de sempre, desde a saída do ventre
materno, onde já me sonhava da mesma forma.
Formou-se a face, mudaram-se as formas,
mas senti-me sempre eu, senhor do meu mundo,
pequeno mas grande, seguro de ser quem sou
e seguro do que serei.
Nevoeiro pousou nesta serra no topo do mundo.
Descobri que pouco via neste confortável aposento
de quem vai vivendo no aconchego do seu canto.
Tentei andar para a frente e caí,
durante longos meses caí.
Pensei que morreria,
mas a terra lá em baixo me amparou.
Em trapos me levantei,
sonambulo te vi,
piei....cantei.
Vinhas de não sei onde,
conhecias não sei o quê.
Tinhas um nome,
disseste vem aqui e vê
o mimo que para ti tenho.
Deste-me um abraço
e parti para o mundo.
Sorrindo

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Combóio a tempo




Camisola côr
de pôr-de-sol tardio
faz-me lembrar
do dia em que vi passar
minha vida num
expresso para o mundo.

Combóio que corre a mil-à-hora,
dizendo sempre "Adeus, vou-me embora",
apesar de eu sempre querer sair
para conversar, para abraçar.
Queria que o combóio abrandasse
e eu pudesse sair para descansar.
Desse tempo para apanhar
experiências junto ao rio,
para depois seguir viagem,
como um alegre pendura
que cheira as brazas e
sente o fresco vento na face.
Dez quilómetros, uma nova cidade,
uma nova visão
onde o doce aroma a utopia
move mundos, onde oriundos
dos cantos da Terra se movem
saltimbancos sonhadores,
sentindo o mar, falando às flores,
trovando memórias e desamores.
Sempre sorrindo...

Ouve-se profunda a voz
do vapor que sai;
o som de um colosso de metal
caminhando sobre carris.
Continua correndo a mil-à-hora
a gritar "estou atrasado, estou fora de hora",
não vendo que nao sai do sítio.
Anda à nora.
Corre às voltas
atropelando quem passa.
Pára vida!!

Dá-me tempo para andar,
aprender e algo mudar
no mundo da pressa e do tempo contado.

domingo, 4 de novembro de 2007

Sobre as viagens como uma criança

Várias voltas ao mundo demos
num só jardim,
onde tudo o que se ouve
é a ele e a mim.

Uma viagem de mota
e paramos para abastecer
de gasolina de óleo de amendoim,
líquido dourado que o mundo fez mover
enquanto o percorríamos de lés-a-lés,
ele sentado e eu pelos meus próprios pés.
Em passos de gigante, dei cinco
e acabou-se o mundo.
Voltamos para trás
e à sombra dum cacto,
num qualquer árido deserto
contamos os grãos de areia
que a vida nos vai dando.

Ele 4, eu 16.
Quatro vezes mais viajamos como crianças,
eu nas lembranças,
ele no tudo-nada de se ser pequeno.
Tudo o que poderá viver;
de nada se lembrará até
tomar consciência de ser
humano e capaz.

Ele desconhecia a sua própria existência,
apenas vivia. Bem.
Eu... Vou-a descobrindo enquanto viajo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Sobre o lugar onde te lembrei

Rua de Santa Catarina,
momento incógnito no infinito do tempo.
Momento congelado nos minutos
perdidos dos homens.

Só os pensamentos sinto mover,
neste fotograma do curto viver
que já possuo.
Que nostalgicamente sorri
com seu sol vespertino
e seu cachimbo de
castanhas fumegantes.
Uma calçada quente
do movimento que fervilha por cima.
Uma cidade parada no tempo,
continuamente correndo pelas vidas que passam.
Podendo ser uma qualquer cidade de experiências,
é por aqui que te encontro
quando estás neste canto do mundo
e te digo que aqui vivemos.

Estás na rua neste momento.
Para ti o tempo está passando
e assim vais espalhando
cores no meu fragmento
de cidade em tons sépia.
Aqui me lembrei do mundo
que tinha para te contar

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Lembrei-te

Sinto que o tempo parou.

Eu e as gentes, estáticos como se
toda a existência fosse este momento.
E mesmo assim tu te moves na leveza com que voas.
No cume do mundo vivia e por cima dele sonhava.
Tudo o que soube parece que deixei escapar,
tão grande a incerteza que me assalta.
Não sei se valho,
não sei se sou,
se consigo,
não sei se vou.
Ignoro até se sei saber,
pois tão grande é o que existe.
Em que mundo vivo?
Não te encontro no meu...
Penso que te conheço de algum lado.
De sonhos, será?
Se acordar vejo que divagava
erradamente, pois sinto-te maior do que sonhava.
No outro dia viajei para lá do planeta
onde os embondeiros são uma ameaça.
Queria mostrar-te o que vi.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Amanhece...
Todo o mundo se move na sua semi-fraqueza de semi-acordado,
sobre o chão que, com frio, ainda pede para dormir.
No ar, frio, voa o fumo leve dos carros,
qual bocejo melancólico pelo sonho da noite.
E o sol... O sol ainda o espero.
Ouço falar, longe e confortante voz.
Cheira a marezia, é porque voei...
Tudo existe, tudo se cria e estou em todo o lado.
E o sol?...
Parto para o mundo; segui a voz.
Pelas ruas corre um ar de tempo passado.
Alegres vejo saltar as cores da cidade, e lá ao fundo está;
O sol, já com vontade de entardecer, sorri:

-Ainda não é tempo de acordar, deixemo-nos
sonhar o mundo um pouco mais.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

A bela da manif

Uma conversa, três pessoas, uma mesma ideia.
Uma funcionária prestável, um lençol, uma caixa de marcadores.
Meia-hora, Meia-dúzia de conversas e uma (não tão grande, e que faz falta) dose de desinibição.
Estava tudo junto e reivindicou-se, falou-se e registou-se.
As maravilhas da comunicação humana.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007


Juntando pedaços de experiências para um belo ramo. Junta.me um grande.
Cap pas cap?

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Devaneios.. nao faço mais nada

Naquela, aldeia, cicatriz de betão e ferro nos "socalcados" montes à beira-douro,
Joana vivia sonhando com o mundo para lá do monte.
Olhos verdes fixando o céu por entre cabelos despenteados assim a vi um dia.
Por entre vinhas e pomares, nignguém se incomodava,
ninguém a via, e ela voava, corpo inerte encostado ao chão.
Perguntei-lhe se podia voar com ela e amedrontada fugiu,
noite passada, la estava novamente, a correr a vida sentada.
Decidi não incomodar...
Não mais a vi, talvez o vento a tenha levado para outras paragens.
Mundos, cores..

Depois descobri sons nas uvas esmagadas ao sol.
Peguei neles, limpei-os bem, coloquei-os na guitarra a secar.
Faltam as letras se juntarem.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Vincent


Velha curta.. Velhas tardes em que a via...
Redescobertas nos recônditos do computador

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Ciclos


Olhando para longe, vejo como nunca vi!

O mundo estende-se para todas as direcções,

plano e claro. Mas quando as vezes me deito sozinho

a olhar enquanto todos dormem, memórias e sentimentos

saltam e me desconfortam. De um nascer do Sol para o outro

uma dessas vezes pode modificar tudo. Ja nao expremo ao maximo

todas as experiencias do dia, ja não cresço...

O dia para e o tempo congela, as pequenas coisas ficam de parte.

Apenas as memórias me ocupam inutilmente.

Bom é o proximo nascer do Sol, que leva as memórias, e traz

de volta as pequenas coisas e a bailarina envernizada, e a música.

Até ao próximo põr-de-sol...

terça-feira, 7 de agosto de 2007


Ouvi dizer que toda a gente festeja.
Dizem que Agosto corre desenfreadamente,
mas aqui apenas a água corre, para lá e para cá.
A água e o pensamento, que voa por cima dos filhos-de-alguém que jogam
com as raquetes e das mães-de-alguém que se passeiam junto ao mar
(hoje parece um gigantesco lago, tão calmo está o vento).
Necessidade humana de gostar de estar noutro situação..
"porque eu só estou bem aonde eu não estou".
Também já cá estou há algum tempo... Pudesse o corpo voar

terça-feira, 17 de julho de 2007



Sem rosto dançavam e eu observava por detrás da porta.
Moviam-se suavemente pelo chão do quarto com seus pés de faz-de-conta..
Era tão natural, tão chegados estavam seus corpos de madeira envernizada.
Eu vi-os sentir, viam cores e agarravam-se pois sabiam-se únicos..
Os únicos bonequinhos capazes de sentir da mesma forma; bem talvez não exactamente igual..
Eram bonecos do meio de infinitos mais... mas dançavam a mesma valsa.
Agora sentam-se nos seus suportes a conversar em poses estranhas, à espera da próxima oportunidade para se sentirem sem
a pressão da sociedade de bonequinhos que os observam para bem e para o mal.
Venhas tu manequim envernizada de pensamento, e gostava de dançar contigo, e de sentar-me nos nossos suportes e saber se vês o vermelho como eu, como sentes o sabor da framboesa e do vento que traz o sonho

quarta-feira, 11 de julho de 2007

"Mãe, deu-me uma vontade enorme de cortar o cabelo"
"Das-me o prazer de to cortar?"
 A primeira foi minha.. Guardei-a como recordação.
O resto vi cair enquanto pensava que se calhar não queria perder o meu
companheiro que tratava há uns tempos...
Já não volto a trás. Estou mais leve! Consigo saltar e voar mais longe agora.
Talvez seja a mudança, talvez seja só um corte de cabelo.

Enfin!


Hier, j'ai vu le film et
maintenant, je connâit Amelie Poulain! Hurray

domingo, 8 de julho de 2007

Sonhar acordado

Olho para o céu e imagino... imagino que chegou o momento...
o momento do meu sonho, onde estamos, vivemos...
Ouço vozes, melodia que me alegra como um beijo de bom dia,
que me lembra daquilo por que vivo.
Depois acordo, ja não estamos no mesmo lugar,
ja me esqueci do que quero..
prossigo o dia inutilmente, chegando ao fim sem nada concretizado,
sem inspiração,
só com o sonho onde estavas comigo naquele mundo onde de tudo eramos capazes.
O momento ainda não chegou.. talvez um dia não veja este mundo apenas a dormir.
Por enquanto espero

sábado, 7 de julho de 2007

Apaguei


Ontem decidi.
Não decidi, "decidi".
Deram-me a escolher entre uma opção que me tirava liberdade e outra que ma dá
mas me obriga a comprometer com algo que não desejo.
"Porque somos pais e não podemos ficar de braços cruzados
a ver um filho a fazer-se mal, mesmo sabendo que pode não surtir nenhum efeito" disseram eles.
No principio perguntaram-me que pretendia fazer, para a seguir imporem a prepotência de pais quando as coisas não correram como eles quiseram. Queriam que dissesse que o que andava a fazer era errado e que não devia mais fazer isso.
Não o fiz.
Concordei em seguir a segunda "escolha",
mas não por achar que não deveria fazer o que fazia.
No final da noite lagrimas escorriam.. ainda não sei bem porquê..
não foi por o fumo ter que morrer..
talvez não tenha agido da forma como idealizei...
bem, está apagado..por 2 anos.. se calhar

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Esqueci-me do meu malho provocado ontem pelo domino(o cão que vive em minha casa e que eu raramente vejo por minha culpa) e por um brincadeira de saltinhos pela rua.
Hoje de manha arrumar coisinhas por casa.
De tarde foi bom,voei para a praia.
Não estava à espera de estar com ninguém hoje mas foi bom decidir de repente já depois do almoço, e viajar para estar com a
inês, a teresa, o bitó(que eu não estava à espera de encontrar), a mariana, a rita e a cata a apanhar solzinho e sentir
a areia a cobrir os pés descalços. 
Hmm tão bem que soube a areia. Eles ficaram queimados. Já não andava de combóio há uns tempos. Surgiu uma nostalgia de praia e viagens de comboio ao fim da tarde. Ando um bocado mudo ultimamente, tenho que falar mais. Hoje a lua está ainda mais brilhante do que ontém.



Ontem a noite saí de casa e fui explorar o pouco terreno abandonado que há num lugar onde tudo é de algúem.
Estava a anoitecer, decidi deitar-me a fazer companhia ao Sol enquanto ele se ia embora e a espera da Lua. Esperei, esperei, olhei para uma borboleta que voava perto, voltei a focar o céu qua cada vez escurecia mais um pouco,
até que tão sorridente e brilhante apareceu a senhora Lua.
Fiquei deitado por uns tempos hipnotizado e depois levantei-me, sacudi a camisola e fui rua a cima a fazer os habituais jogos (pisar só dentro de quadrados, não pisar os prolongamentos imaginários das linhas passadeiras,...). Ainda não estão todos de férias por isso os meus
primeiros dias de férias têm sido
assim, sozinho a contemplar e a lembrar-me do que e bom.
Vamos ver como hoje será =)

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Abraços, abraços...



Vou na rua.. Vejo a cascata de gente a descer e a desviar-se nas ruas. Correm, correm para chegar um lugar onde vao correr ainda mais;
trabalham a correr, sem um sorriso na cara, para correrem para casa onde comem uma refeição rápida para verem a correr as notícias 
para dormir um pouco,
menos a correr, pois precisam da força para correr o dia seguinte.
Momo chamava a estas pessoas os homens cinzentos. Quando passam por quem conhecem são capazes de lhes ofertar apenas um cumprimento, quando não se ficam pelo acenar de mão com um forçado sorriso, que tanto tempo poupa.
Entristece-me o facto de muita gente não ter tempo e (a)vontade para um abraço que eu gosto tanto de oferecer. Gosto tanto que não haja distâncias criadas sem propósito. Sabe mesmo bem quando alguem se sente bem com a flor ou pequeno mimo que lhe dou. 
Abraços a correr do fundo, abraços apertados...
Está Sol lá fora..
Um abraço faz muita diferença; sabe bem o contacto com alguém, a sensação
de aconchego.
Não tenho abraços hoje.. o Sol foi-se embora..