sábado, 5 de janeiro de 2008

Ó mar gente

Vi o mar bater de rompante,
chamou uma voz e num instante
me calei, virei a levante e
vi o reflexo do sol no mundo das pessoas.
Estava sereno e sorridente o mundo,
mas virado para o mar um segundo
vi-o irritado e turvo
ia e vinha desaconchegado,
gritava com o corvo cinzento do seu passado.

Contou-me que o som
que ouviu algures dum acordeon
não lhe sossegava a memória
de quem lhe havia rasgado o ventre.
Terra e Homens ao longo da História.

Disse-lhe que se sossegasse,
o tempo passou,
a Terra mudou
e agora sorria,
tanto aqui como do outro lado da sua face.
E eu estava com ele,
afagava-lhe as ondas
com o lápis e as palavras.
Tanta gente deposita
seus sonhos e memórias em ti, ó salgado.
Choras o tempo que já não é,
aparte a grandeza pareces humano.
Estás cá e logo vais,
incerto e inseguro
agarras teu lado escuro
dizes não volto mais.

Mas logo vem o dia,
que te trás de volta.
Dás uma rima solta,
sorris e vais,
voltar nunca mais.

Já viste tanto, és privilegiado,
vês a terra e o ser humano:
pobre, rico e enamorado.
És o maior de todos eles
e quando te vejo no meu sonho
és maior que todas as gentes,
vês todo o mundo,
cegos, visionários e crentes.

Foi-se o mar todo contente,
criança recém-aconchegada.
Beijou o sol e falou.
Guarda isto, tudo é nosso,
pareço gente,
tens razão,
por muito que o mundo seja lume quente,
isolo-me num canto mente,
vou e venho inventando solidão.

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